Aldeia

Diante de mim não há apenas o tempo
Das memórias em que vez por outra tropeço,
Há também o espaço do vento
Que sacode os galhos secos
E os pendões que plantei na infância.

Quando a vista não mais alcança
As infindas léguas percorridas
Tantas e muitas e sempre esquecidas,

Quando não se divisa mais nada,
Nem coisas nem vultos nem passarelas,
É a infância que convida
Ir à uma cidadela
De ruas miúdas e sem calçadas
E de uma antiga Estação Velha.

De fato ali nada se desfaz:
O mudo, o tagarela, o pacóvio, o sábio, a bela, a feia,
Tudo ali se satisfaz.
Ali tenho a minha pacata e serena aldeia.

Só às vezes ouço com amargor o trem de ferro
E o apito afundando nas águas do Rio Doce,
Mas até nisso o incômodo é como se fosse
A certeza intacta de um espaço eterno,
Pois ali tenho meu trem de ferro.

Se ainda adiante o espaço me aprisiona
Se ainda adiante o tempo peleia
Se ainda adiante o tempo me escraviza
Ainda adiante tenho minha Aldeia
E ela me liberta e me eterniza.

Roberto Moura de Souza
Uruguaiana - RS
( Antologia virArte Aldeia, 2007 )

No comments: